No colégio, eles não se conheciam, era um pacto mudo, quase sagrado. Ele, o garoto calado no fundo da sala, ela, a menina que sempre sabia a resposta, mas nunca fazia questão de dize-la em voz alta. Entre eles, só olhares rápidos - desses que carregam uma historia que ninguém precisa saber.
Ela aparecia a tarde na porta da casa dele, sem aviso, com um sorriso meio torto de quem entende o mundo antes da hora e ficava ali jogada na cadeira ouvindo ele tirar som da guitarra, dizendo que ele tocava como quem procura alguma coisa que perdeu antes de nascer, mas mesmo assim ela ouvia como quem guarda um segredo bonito.
Ela era como um acidente bonito na rotina dele, uma cabeça cheia de ideias com um corpo que parecia sempre pronto para ir embora como se a vida fosse uma estrada que ela já conhecia de cor, livros, filmes, bandas antigas, ela o fazia acreditar que havia magia nas coisas simples: no vento passando pelas arvores, nas canções e historias que inventavam juntos, nos sonhos que pareciam possíveis.
No ultimo dia de aula ela disse que ia para a praia, sentir o sol, ver o mar e viver as coisas grandiosas, prometeu voltar com algo novo...
Quando soube do acidente o som da guitarra virou ruído, as tardes ficaram longas, quase infinitas, quando tocava sentia o ar mudar como se ela estivesse ali - na sua cadeira, rindo do jeito que só quem entende a vida antes da hora é capaz de rir.

Nenhum comentário:
Postar um comentário